domingo, 7 de abril de 2019

esculturas de lixo

estranhos tempos estão encantando
o coração das cidades, as guelras dos peixes
emergindo das redes sociais,
saudando o ódio que nos enforma
e conduz, as esculturas de lixo
rasgando a pele de animais degolados
ao entardecer, sangrando palavras

inertes


Conheci, já lá vão muitos anos, um homem que construiu um barco dentro de casa. Quando terminou a obra concluiu que esta não cabia pela porta, nem sequer pelas janelas. Fez dele cama. Passou a ser conhecido em Tavira pelo "arquiteto sem medidas".
P.S. Diz-se, e se calhar maliciosamente, que nunca mais lhe faltou companhia na cama. Alegre e diversificada.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

pergaminho na pele antiga

dirias que a sanidade mental é um pergaminho afixado na parede para ser lido por quem não sabe interpretar as palavras lavradas na pele antiga.

quarta-feira, 24 de março de 2010

a inércia dos antepassados

congratulo-me com a inércia dos antepassados que pairam no silêncio das vozes marginais. a marginalidade de hoje foi o centro de antanho, ao contrário do que pensam os cientistas sociais. a solidão estabelece o caos na modorra dos passos que seguem o inexplicável movimento das sombras.olho atrás da janela. lá fora a chuva e o frio gritam sem cessar.amanhã, sem pressas, irei comprar um telemóvel.

maniqueísmo brutal

alguns rastejam em condições humilhantes, até ao assombroso covil das vacas gordas. a lascívia do poder penetra-lhes a pele luzidia e arrasta-os na eterna luxúria do conhecimento. afinal a base de tudo: do maniqueismo brutal que nos oprime, da sensação irresistível de ser livre, da doce carícia da virtude.

marginais do pensamento

por entre as velhas redes institucionais, nos interstícios ocos da risível gregaridade, viajam marginais do pensamento. viajam sem danificar os ancestrais pilares da moral. navegando na cabotagem, cruzando as marcas do mundo conhecido como forma de nunca esquecer os entes queridos. cavalgando as memórias selvagens da história como forma de espalhar o sexo no futuro.

obstáculos tortuosos do labirínto

quando os dias felizes regressam e as paisagens se deixam perpetuar nas palavras distantes. quando só existem bocados de silêncio nos caminhos insondáveis da memória - taumaturgos que se vergam aos obstáculos tortuosos do labirinto - , encontro a paz das planícies onde os parasitas da alegria jazem sob os sedimentos eternos da sabedoria.

confortavelmente descasco as romãs que me paralisam os afectos e ordenam as físicas dores de antanho.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

moribundos na noite

quando o tempo se estatelar na frieza dos olhares, a viagem será percorrida na planície incompleta, a loucura ostentará a simbologia das tempestades e os inquietos e famintos aprendizes do nada navegarão sem rumo à procura das metáforas carentes da liberdade.
repleta de moribundos cairá a noite…

terça-feira, 24 de março de 2009

punhaladas raivosas

na noite das facas longas todas as palavras serão lançadas. enquanto as lâminas rasgarem as carnes palpitantes a hipocrisia dará lugar à verdade plana e dolorosa. as palavras doerão mais que as punhaladas raivosas...

terça-feira, 10 de março de 2009

descontinuidades mentais

os ritos desconstrutivos são tanto mais eficazes quanto mais forem apontados à hipocrisia dominante. a liberdade é um espaço sem escala cultural. o veículo que nos transporta ondula nas descontinuidades mentais dos que a amam e respeitam. os que leva sempre traz.